terça-feira, 24 de setembro de 2013

OLHO DE PEIXE

Dona Maria












Eu não posso deixar de contar esta história, vamos falar da Dona Maria, uma senhora de quase 70 anos que resolveu estudar na terceira idade, isso é muito comum na alfabetização de adultos.
Todo o dia tinha que, reservar uma cadeira para ela e outra para seus  pés. Durante o dia ela trabalhava como merendeira de uma escola e a noite ia para a sala de aula, mal aguentava andar com os pés cheios de olhos de peixe (verruga plantar). Todos os demais alunos eram solidários com ela e traziam na hora do intervalo o seu lanche e a paparicavam.
Dona Maria sempre me dizia: Não perca muito tempo comigo, dê mais atenção aos outros alunos, pois eu só quero aprender a escrever o meu nome. E eu respondia pra ela: Mas por que só quer aprender o seu nome, a senhora pode ler  e escrever o mundo, tem tantas coisas lindas pra se ler.
 A história de Dona Maria contada por ela:
Segundo ela, moravam numa pequena cidade de Minas Gerais,  com o marido e os sete filhos. Um dia o marido saiu pra comprar cigarro e nunca mais voltou, deixando ela sozinha pra criar os filhos. Comeu o pão que o diabo amassou, mas conseguiu, os filhos cresceram , vieram pra São Paulo e aqui todos estudaram, graças ao esforço dela. Porém, um dia quem apareceu? O marido, depois de anos, sem dar uma única noticia, voltou.  Ela então pediu o divórcio, porque  nem isso ela tinha conseguido. O sonho da Dona Maria era escrever o próprio nome, na frente do ex-marido e do Juiz, não queria ser considerada analfabeta, colocando o dedo no tinteiro pra assinar. Por isso ela entrou na escola, apenas para aprender a escrever o nome.
Anos depois, encontrei um filho dela e perguntei como tinha sido o divórcio, e o filho  disse-me que a maior felicidade dela, foi ter assinado o nome na frente do Juiz e do ex-marido, e também ter tirado uma identidade nova com assinatura.
E o olho de peixe?  Era a reclamação dela todos os dias na classe.

Leonita Oliveira


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